quinta-feira, 10 de julho de 2008

Trote: diversão ou absurdo?

Por José Pedro
Quando você consegue passar no vestibular é uma alegria muito grande. Contudo, aos que ingressam nesse novo mundo, tem uma “prova” muito complicada que é imposta pelos veteranos: o chamado “trote”.

Trote no dicionário Aurélio significa “zombarias dos alunos veteranos de uma escola sobre os calouros”. Nem todo mundo sabe, mas o trote Universitário começou na idade média, mais precisamente no século XIV, quando os calouros eram encaminhados aos vestíbulos (origem da palavra vestibular) para raspar os cabelos. Naquela época era muito grande a incidência de doenças, sobretudo a peste.

Pelo mundo, também há muita incidência de trotes, os mais variados possíveis como, por exemplo:

França: Os calouros eram submetidos a um julgamento, com direito a pagamento de um banquete ao reitor, tesoureiro e alguns veteranos eram convidados.
Alemanha: dois veteranos se colocavam como enfermeiros e médico, pegavam o calouro, tiravam sua roupa, cortavam o cabelo, arrancavam os pelos do nariz, e esfolava o rosto da vítima
Inglaterra: depositava livros, e fazia um discurso nu em cima de uma mesa na frente dos veteranos.
Portugal: eram feitas ações com muita violência, humilhação e extorsão.

A chegada do trote ao Brasil aconteceu no século XIX
quando os portugueses implantaram os cursos universitários


Crédito: marcoscostaob.blogspot.com

Possuem vários tipos de trotes, os aparentemente inofensivos como somente raspar o cabelo, ganhar banho de coisas como farinha, café, ovos, catchup, entre outros. Elisa Souza, estudante de Administração na Universidade Federal de Uberaba, diz ter passado por um trote muito humilhante e que batalha para parar com esse tipo de situação. “Tacaram tinta em mim, além de café, catchup, leite e muitas outras coisas. E, também, me pegaram por trás, me espancaram. Está muito difícil superar, e acho que as pessoas que passarem no vestibular, com certeza, não vão se deixar abater e conseguirão terminar com essa palhaçada.”



Crédito da foto: denelope.blogspot.com




Também têm os trotes humilhantes como beijar cabeça de porco, adorar uma pedra, pedir esmola embriagado numa rua importante da cidade. E outros são para machucar, como jogar óleo quente, esmurrar muro, tomar pedradas, serem espancados ou linchados.



Rodrigo Souza, ex-aluno do curso de artes da UNB, diz ter passado por maldades e humilhações no trote em que foi vítima. “Simplesmente eu não quis participar do trote, daí eu sofri muitos ferimentos porque eles (os veteranos) me bateram muito, eu não tive como me defender, foi simplesmente horrível.”

Ugo Luis Boattini, Edilson Hsueh, George Parreira Mattos, Carlos Alberto de Souza entre outros, não tiveram como começar a estudar numa faculdade porque abandonaram o curso ou morreram por causa do trote.

De acordo com os veteranos, três palavras justificam a ação dos trotes: a) a tradição: Todos fazem, por isso continua durante as gerações; b) brincadeira: Por ser um momento de descontração; c) integração: é o modo que unir veteranos e calouros.

No ano de 1999, a Justiça Federal e as universidades se uniram para criar uma nova forma para o “trote”, o chamado trote solidário. Em vez de dar dor e sofrimento os calouros, as duas partes se unem para fazer vários tipos de atividades solidárias, como visitar idosos no asilo doando alimentos, agasalhos e tempo para conversar, ir a uma creche fazer brincadeiras com as crianças por durante várias horas levando tudo que foi arrecadado. E, há, ainda, o trote cultural no qual os calouros e veteranos se organizam para fazer um evento que reúne shows, palestras, oficinas, proporcionando muita educação e integração.


Observem o que o trote pode ocassionar numa faculdade:

Uma tentativa de trote terminou em tumulto nas Faculdades Santo Agostinho, segunda-feira (18) à noite, em Montes Claros. Os veteranos do curso de Engenharia Ambiental tentaram entrar numa sala de aula para realizar o trote nos novos alunos.

Entretanto, a professora que estava na sala não aceitou a entrada. Começou uma confusão na porta da sala, com os estudantes vaiando a professora. Depois, alunos de outros cursos foram para o local, aumentando o tumulto.

A Polícia Militar foi acionada. Segundo o estudante Gustavo Xavier Ferreira, do terceiro período de Engenharia Ambiental, chegaram ao local 12 policiais, em quatro veículos. Os PMS interferiram e conseguiram retirar os veteranos da porta da sala. Apesar do tumulto, não houve feridos.

Gustavo Xavier revelou que os veteranos estavam dispostos a aplicar o trote de maneira pacífica, sem constranger os calouros. “A intenção era apenas recolher algum dinheiro com eles para, depois, sair todo mundo para um barzinho e tomar uma cerveja”, declarou.

Ele disse que parte dos universitários reclamou do fato de os PMS entrarem na faculdade segurando armas. Na terça-feira, por intermédio da sua assessoria de imprensa, a direção das Faculdades Santo Agostinho, informou ter considerado o episódio “um fato normal” em que não houve nenhum prejuízo, tanto para a instituição como para os estudantes.
Fonte Bastidores do Crime



Para que fazer tudo isso, só para conseguir dinheiro para tomar uma cervejinha?


Com todos os exemplos apresentados podemos pensar numa coisa: será que o trote é uma boa forma de “boas-vindas” para as pessoas que sonham com uma faculdade?
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